Guel Arraes é, sem dúvida, um bom diretor. Seus filmes sempre são campeões de bilheteria no país e imensamente comentados nos principais meios de comunicação brasileiros. Com certeza estão entre a lista de filmes preferidos de muita gente. Obras memoráveis de sua direção, como por O Auto da Compadecida, Caramuru: A Invenção Do Brasil e Lisbela e o Prisioneiro,foram mini-séries da TV Globo (também dirigidas por ele) antes de se tornarem filmes, sendo que tais mini-séries foram construídas a partir de clássicos da literatura de Ariano Suassuna, Santa Rita Durão e Osman Lins.
Arraes também faz parte da geração de diretores da chamada Retomada do Cinema Brasileiro, principalmente no que se refere ao apuro tecnológico e pura padronização. Essa fase, iniciada a partir de 1995, foi de grande importância para o cinema nacional. Significou o retorno do público as salas, mesmo que para assistir filmes na viés infantil. O aparente sucesso do Plano Real e as Leis de incentivo a cultura foram favoráveis para a produção cinematográfica, o que resultou em altos investimentos em mão-de-obra e tecnologia. Guel iniciou sua carreira no cinema em 2000, dois anos depois da criação da Globo Filmes.
Em meio a essa transposição de artes o que nos interessa é a estética e a linguagem da TV para o cinema, claramente percebida nos filmes de Arraes. Por exemplo, embora o primeiro filme retrate o sertão árido, o segundo o Brasil de 1500 e o terceiro o nordeste mais moderno, a lógica de produção é lúdica, assim como nas novelas, e as narrativas acontecem de modo acelerado. É preciso ficar atento a tela para não perder nenhum detalhe.
Esse “cinema de TV” é apresentado de forma requintada (carros, figurinos, produção de moda, figurantes, etc), faz-se uma mega produção para se aproximar da realidade (mas talvez se afaste dela) diferentemente do cinema realista que usa ambientes verdadeiros em suas produções. As cenas são sedutoras, nada causa repulsa no espectador de imediato. Tenta-se tornar belo o que aparentemente é ruim para nós.