quarta-feira, 18 de maio de 2011

Crítica O Auto da Compadecida







A FOME, A SECA E A MISÉRIA HUMANA CONTADOS DE UM JEITO BEM IRREVERENTE












Relações baseadas na mentira, na hipocrisia, na lei do mais fraco e do mais forte. A miserável vida humana se torna engraçada e divertida, embora trágica, no texto de Ariano Suassuna adaptado para a TV, e depois para o cinema, por Guel Arraes. Um dos filmes de maior bilheteria no Brasil, um dos mais engraçados e originais. Embora seja uma adaptação não tem outro igual.

Em O Auto João Grilo (Matheus Natchergaele) inteligente e mentiroso com um alto poder de convencimento, e Chicó (Selton Melo) covarde contador de histórias, estão em busca do pão de cada dia e enfrentam a vida como podem. Fazem de sua tristeza a nossa alegria quando enganam, das mais variadas formas, o padeiro e sua mulher, o padre, o bispo e o major. Ao final todos serão julgados por Deus, Nossa Senhora e o Diabo por seus pecados. Personagens divertidos que representam toda uma estrutura social: a burguesia, o clero, o poder político e os pobres servis. Apesar da obra ter sido escrita em 1955 seus personagens estão muito bem representados em nossa sociedade, embora essa esteja muito mais diversificada.

O história todos nós já conhecemos. Mas, o que Arraes trouxe para a cinematografia do filme é diferente. A linguagem da TV é perceptível, uma vez que a cenografia é extremamente trabalhada, as cenas são rápidas, há muitos planos médios e pouco (ou nenhum) enquadramento inusitado e até um som característico, em determinadas situações, para as falas dos personagens é construído. O uso de efeitos especiais foi um diferencial no filme. A cada flash back de Chicó, para contar suas histórias sem sentido, usou-se recursos especiais, assim como no momento do julgamento em que João se cura do tiro que levou, as portas do inferno se abrem e o Diabo mostra sua verdadeira face.

O julgamento de João Grilo: 



A religiosidade está presente do início ao fim. Até mesmo um aspecto ideológico foi percebido quando no momento em que Chicó cita a fala “ encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é marca de nosso extremo destino sobre a terra, o fato sem explicação que iguala tudo que é vivo em um só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre”, imagens dos 12 passos de Jesus Cristo para a morte e ressurreição são mostrados. Sem dúvida esse é o melhor filme de Arraes, embalado por um trilha sonara inconfundível, tornou-se inesquecível.

Trailer: 


O Auto da Compadecida Brasil , 1999 - 104 min. Comédia
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Ariano Suassuna
Elenco: Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Denise Fraga, Diogo Vilela, Marco Nanini, Lima Duarte

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